segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

AMIGO?

Autoria: Vanessa Morelli


“Como vai você?” – pergunta curioso Rodrigo, preocupado com o sentimento do amigo.

“Bem, obrigado!”, diz Plínio aparentando falso estado de paz.

Rodrigo replica:

- Mas está tudo bem mesmo?

Insistentemente, Plínio responde:

- Bem sim, Rodrigo. Estou muito bem em ver meus amigos perguntarem sem sentido se os outros estão bem quando sei que o mundo não está nada bem.

- Por que me diz algo assim, caro amigo?

- Porque sei que as coisas nunca estarão bem. Quem tem uma casa quer duas, quem tem sucesso no amor vai querer o profissional e aquele que tiver tudo, então o que mais pode ter? Se o mundo é movido por desejo, querido Rodrigo, o que pode desejar aquele que tudo tem?

- Boa observação, Plínio, mas pense aqui comigo. Eu sou um homem satisfeito, tenho uma boa mulher, um ótimo trabalho, uma excelente condição de vida e uma saúde digníssima, o que hei de reclamar?

- Ora, ora, Rodrigo, a quem engana? Pensa ter seus sonhos realizados e por certo deve tê-los, entretanto o que o faz acordar dia após dia se obtém todos seus sonhos?

- Os prazeres da vida, meu amigo. Um deles é estar com você aqui neste bar, bebendo do vinho mais caro e podendo dar gorjetas infladas aqueles que a mim prestam serviço. Como posso reclamar, Plínio?

- De tudo isso, mas é claro! Aquele que tudo possui o que mais poderá possuir?

- De pronto respondo, amigo. Cabe a eu dar alegria aqueles que não tem a mesma sorte que eu. Pudera eu ignorar tal fato? Digo que sim. E se assim fosse, aí estaria toda minha infelicidade: a de não dar prazer e alegria àqueles que necessitam. E não de mim! Mas por meio do que posso dar a eles. Minha esposa, por exemplo, só me pede amor. Posso eu negar isso à ela? Não. Se o fizesse, aí sim cavaria minha sepultura. E o dinheiro que me sustenta, não mais me sustentaria vida e por certo, um caixão. As conquistas somente trazem felicidade, queridíssimo Plínio, nas mãos dos que sabem dividir.

- Creio que estou convencido dos seus talentos em cativar aqueles carentes de sorte ou de domínio. Se é realmente meu amigo e acredito firmemente que sim após extenso discurso elucidativo e argumento sustentado, coloco-me numa posição de subalterno e oprimido pelos causos da vida e pergunto: posso eu desfrutar do seu lar aconchegante, com sua esposa a passar frente aos meus olhos e eu contemplar e me abastecer da felicidade doada por um amigo que cá se encontra em minha frente?

- Ora, vamos voltar logo ao Tribunal que estamos atrasados.

Um comentário:

Perto do Mar Filmes disse...

vc ta cansada de saber o quanto gosto das coisas q vc escreve...
desde que eu te conheço rsrsrs
vc respira arte e isso me faz bem!!
Ainda vou te ver dirigindo!!!
Bjosssssssssssss
Cami