sábado, 5 de janeiro de 2008

Dramaturgia da Morelli (2007)

CULPADOS,
Drama em um ato, 1ª Peça de Vanessa Morelli

Mistura de dramas e risos. Presos ao passado, a si mesmo, a uma sociedade monogâmica que não aceita traição e poligamia. Prisioneiros por situações mal resolvidas, pela falta de amor, pelas relações que se perdem entre justificativas e falta de iniciativas. A única maneira de conquistarem a liberdade é tomar ciência e controle de suas vidas.

Sinopse: Dois casais encontram-se num bar. O que era para ser um encontro feliz transforma-se num retorno ao passado cheio de culpa, traição e raiva. Todos são culpados, prisioneiros de memórias do passado, buscarão uma maneira de serem livres.

Personagens: Bianca, Aila, Lucas e Rogério.

Breve trecho do começo da peça:

(Os personagens estão vestidos de prisioneiros, simbolizando o estar preso no passado e em situações mal resolvidas. O espaço cênico é limpo, somente uma cama de casal – caixa de madeira em forma retangular - no fundo, com um lençol vermelho e em cima uma rosa branca, o meio do palco ocupado por duas mesas, uma do lado esquerdo e outra do lado direito com duas cadeiras em cada uma. Mesa 1 das mulheres, à direita. Mesa 2 dos homens, à esquerda. As mesas são brancas, as cadeiras são pretas. Há um tapete branco e preto, como um tabuleiro de xadrez que dará a noção de que os personagens são peças movidas por uma força maior. Todo o palco em escuridão absoluta, iluminando apenas a Imagem congelada. Aila e Bianca sentadas na cama. Rogério e Lucas em pé, atrás de Bianca está Rogério e atrás de Aila, Lucas)

BIANCA (OFF) - O brilho das estrelas não ofusca o brilho da lua, redonda, imperiosa, majestosa, ela é só ela, única! Porém existe o sol, mas é preciso desaparecer um para dar espaço ao outro. Um precisa ceder. É necessário desaparecer, mesmo que por um dia e mesmo assim existe lua, existe sol. Um sabe do outro, mas não se conhecem e nunca pediram para se conhecer. E existe ar, existe oxigênio. E existe água, mas é necessário hidrogênio, dois hidrogênios para estar ao lado do oxigênio. E três se unem, não são dois, nem quatro. São três. Três é sempre bom, nunca é demais, dois talvez sejam dois por serem demais e um é pouco, sempre é pouco, mas ao lado de dois oxigênios é sempre bom. E existe a água, os três necessários. E há relação, a três, mas há uma e somente uma relação. E a terra é seca, úmida e nunca deixa de ser terra. Pode ser lama. Algumas lamas fazem bem a pele. Contato de peles, e se esquentam e se arrepiam e pedem abrigo e sentem carinho porque há calor e aquece, aquece e pega fogo, que queima, arde e alimenta, mas é necessário respirar e existe oxigênio, oxigênio que se une a dois hidrogênios, mas é necessário oxigênio, é necessário respirar, Ó DOIS!

(a imagem ganha movimento)


AILA - Que seja feita a sua vontade! (elas se beijam, num selinho angelical e casto)

AILA: (para Rogério) O que sou, amor? O que sou? O amor é um mal, um jogo ímpio.

BIANCA: Sagrado, um jogo sagrado, uma possessão divina pela qual nos elevamos acima de nós mesmos.

LUCAS: Quantos não falaram de amor? Desde Platão, Alexandre Dumas até Mário Bortolotto. Ora, a frágil alma humana procura a soberana beleza contemplada em encarnações anteriores. Esse é o seu ideal, é pelo Amor que a fragilzinha alma humana encontra seu caminho na procura pelo saber, em busca do amor platônico. O amor é o caminho para a libertação.

ROGÈRIO: Temos uma escada a percorrer. Primeiro degrau: amor físico. Preparados?

BIANCA: Concluído.

AILA: Assinalado.

LUCAS: Em dia.

ROGÉRIO: Temos de ir para o segundo degrau, portanto nada de desvios de meta, nada de loucura, nada de transgressão ao próprio corpo. Seguiremos adiante em busca de nossa prioridade: segundo degrau. Estejamos atentos o máximo possível.

(Presente:Os personagens estão num bar, bebendo e conversando informalmente)

AILA: Não sei se começo pelo fim, pelo meio ou se começo pelo começo. Mas onde é exatamente o começo? O começo está ligado ao nascimento, mas nascer implica um ato de morrer. Renascemos de nossas mortes. Acho que morremos todas as noites em nossos sonhos e fazemos do dia um recomeço. Estamos num bar, este espaço preenchido com duas cadeiras do lado direito e duas cadeiras do lado esquerdo. Do lado direito, a mesa das mulheres e do lado esquerdo, a mesa dos homens. Eu sou Aila.

BIANCA: Eu sou Bianca.

AILA: Somos duas amigas que não se vêem há cinco anos.

BIANCA: Cinco longos anos...

(...)

MARGARIDAS,
Comédia negra em um ato, 2ª Peça de Vanessa Morelli

Personagens: Clara, Poliana, Abigail, Velhinha e ELE.

Breve trecho do começo da peça:

(O telefone toca. Poliana atende. Fica muda e desliga)


CLARA: (na cama) Sinto cheiro de flores por todos os lados, por onde quer que eu vá sinto cheiro de flores. (pausa) Era uma manhã, o sol ainda não tinha se posto e eu caminhava tranqüilamente. Lembro de ter visto duas aves que voavam ao longe e o cheiro e o cheiro de flores. Ele era bonito, estava vestido de branco e veio em minha direção. Podia ser confundido com Eros, tamanha beleza. Quando percebi, estava sonhando.
(...)


MARIPOSAS PERDIDAS – um mergulho dentro da mesma alma
,
Drama em um ato, 3ª Peça de Vanessa Morelli


As mariposas dominam as noites e são atraídas pela luz. Mariposas perdidas é justamente a procura incansável por esta luz, o não encontro, o estar perdido (a). Uma mulher em busca de algo, ao encontro de si mesma (a luz, um futuro, um amor, um ideal) e um homem bem racional que é uma projeção dela mesma (é uma conversa com seu lado interior, decidida, com luz própria). O que ele quer? Ele a quer, a deseja, a ama, é o amor-próprio. O que ela quer? Não sabe, desconhece.

Sinopse: Uma poetisa num momento de crise se fecha em seu mundo para poder se achar. Perdida, procura uma luz criadora, uma luz que norteará seu caminho ao encontro do amor por si mesma que se encontra ausente, mas pra isso precisa primeiro se libertar.

Personagens: José Carlos, Maria Hellena, Menina, Justiça, Defesa e Acusação.

Breve trecho do começo da peça:

(Palco em total escuridão, neste momento o espaço é um grande vazio. Lanternas aparecem de todos os lados, buscando algo, procuram, nada encontram. Tempo. As lanternas apagam, breu total. Tempo. À direita luz na JUSTIÇA que está num degrau mais elevado que as demais – Acusação e Defesa. Sempre as três forças do julgamento estão juntas.)


JUSTIÇA: Vamos começar a sessão. Por favor, sentem-se e desliguem bips, celulares e seus diversos aparelhos eletrônicos. (ameaça) Eu juro que coloco nas grades o filho da puta que me interromper. (retoma calmamente) É terminantemente proibido ingerir alimentos dentro desse espaço. Havendo necessidade de saciar qualquer tipo de vontade, peço que se encaminhem para o hall. Silêncio! A sessão dará início. (bate com o martelo)

(ELA deitada no centro do palco, como se estivesse morta. Foco de luz no centro. ELE se aproxima e a contempla, está atrás dela, como uma sombra. A campainha toca. ELA permanece imóvel. Apaga foco neles e acende novamente na JUSTIÇA.)

JUSTIÇA: A ré é acusada de cometer crime hediondo contra a própria vida, negando-lhe a liberdade, direito adquirido do cidadão e direito humano existencial básico. O julgamento vai começar. Peço a Acusação que inicie seu discurso.

(...)


Agradeço ao Teatro Kaus Cia Experimental pela oportunidade de participar do Ciclo de Dramaturgia Latina e dos Cursos com Santiago Serrano e Edílio Peña e ao Frederico Barbosa, Donny Correa, Marina Bedran e Gabriel Navarro.
A todos, coloco-me à disposição para enviar as peças integralmente. Margaridas já foi lida na Casa do Saber e na 3ª Virada Cultural da Casa das Rosas (Atores: Débora Aoni, Fernanda Sophia, Vanessa Morelli, Vera Monteiro e Will Prado) e Mariposas Perdidas, na Casa do Saber (Atores: Camila Rondon, Débora Aoni, Fernão Lacerda, Igor Kovalevski, Luiza Albuquerque e Samya Enes). As três peças se encontram devidamente registradas na Biblioteca Nacional.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008