Autoria: Vanessa Morelli
Letícia havia acabado de colocar o telefone na base. Parada, ainda refletia sobre o que acabara de conversar. Foi então tomar um banho. O chão estava todo molhado, o espelho embaçado peça fumaça do chuveiro quente. Enxugava-se.
Letícia havia acabado de colocar o telefone na base. Parada, ainda refletia sobre o que acabara de conversar. Foi então tomar um banho. O chão estava todo molhado, o espelho embaçado peça fumaça do chuveiro quente. Enxugava-se.
Colocou sua melhor lingerie, era vermelha. Admirou-se por um instante em frente ao espelho do quarto. Abriu a porta do armário. O que vestir? “Um longo preto clássico seria o ideal para um jantar”, pensou. Logo desistiu. Pegou um vestido rosa bastante sensual. Olhou-se mais um pouco em frente ao espelho.
“Narcisista eu? De maneira alguma!”, deixou escapar em voz alta.
Abriu seu estojo de maquiagem e passou um batom para acentuar o colorido de seus lábios. Lentamente deixou sua pele absorver o creme hidratante que passara. Em seguida, colocou uma película de base e pó para dar suavidade. Retirou do estojo o lápis preto e contornou os olhos minuciosamente. Lembrou-se de passar uma sombra e então o fez. Ainda pálida notou-se, finalizando com blush avermelhado que coloriu as maças de seu rosto. Estava se esquecendo de algo... o que seria? O perfume, mas é claro!
Estava quase pronta para a grande noite com o seu amado amante. Ele gostava de cinta-liga e ela usava para agradá-lo. Colocou um salto 7 e mais uma vez contemplou-se em frente ao espelho.
Letícia era amante da vida, do amor e de Carlos. Saíam sempre que podiam, embora não tantas vezes quanto Letícia desejava. Carlos tinha duas meninas lindas e um casamento sólido de treze anos. Amava Letícia, porém não poderia abandonar sua esposa e suas meninas.
Como era difícil para Letícia conviver com o rótulo de amante, convivia a maior parte do tempo com a solidão. Não podia contar nunca com Carlos, jamais poderia ligar para ele, seja para lamentar, gritar, chorar, amar, jamais ligar... sempre a espera da procura de Carlos.
Estavam juntos há cinco anos. Naquele tempo, Carlos não tinha filhos ainda, restava a esperança de que poderiam um dia viver juntos. O tempo passou e Letícia não mais esperava vida em conjunto, não tinha mais esse sonho. Gostava tanto dele que não se conseguia imaginar com outra pessoa.
Para Carlos tudo era perfeito: tinha a esposa que o amava, filhas que alegravam sua casa e uma amante de fazer inveja a seus amigos mais conservadores.
Letícia era de uma beleza estrondosa, não havia homem que não se sentisse seduzido pelo encanto dessa jovem moça. Com seus vinte e oito anos, conservava a vitalidade e juventude dos dezoito. Letícia se cuidava, usava bons cosméticos e sua alimentação, sempre saudável.
Pronta, Letícia esperava, sentada no sofá da sala, esperando o toque da campainha. Disse que estaria às 20 horas, já eram 21. Começou a ficar com sono, acreditou que não mais viria.
Sonhava que ele a pedia em casamento – sonho de quase todas as mulheres. Sonhava que ele entregaria um solitário pedindo que sempre o amasse e que faria questão de conhecer sua família. Sonhava, sonhava... e seu vestido seria tão branco como o algodão-doce. Sempre imaginou-se vestida de noiva, amada para todo o sempre...
Escutou um som. Um tanto atrapalhada percebeu que era o telefone. Atendeu. Uma voz do outro lado dizia brevemente “me atrasei”. Letícia entendeu a mensagem e colocou o telefone novamente na base.
Nenhum comentário:
Postar um comentário