terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Monólogo de Lembranças e Presentes

Autoria: Vanessa Morelli

Lembranças são marcas. Marcas que prensam memórias e algumas lentamente desaparecem. Outras confirmam os medos, inseguranças, derrotas. Dessas, não devo me aventurar a lembrar, deixo onde estão, tímidas, profundas e solitárias.


Tarde de verão. Espero um telefonema para um encontro. Mera formalidade necessária e indispensável, pois já estava combinado: Café Central, 20 horas. Os minutos passam numa vagareza alucinada e a ansiedade toma conta compulsivamente. Ainda um projeto a finalizar, entretanto a mente viaja outros lugares e sensações. Focar no que a priori é importante me parece uma tarefa difícil e angustiante.

Vou ao armário pegar uma caneta, pois a tinta havia acabado. Desastrada, derrubo inúmeros objetos no que me abaixo para pegá-los e devolvê-los aos seus respectivos lugares. Uma foto, já manchada e mal cuidada, me observa. Paro. A mente tão fugidia tem o poder de voltar anos atrás só pra provar que tem o dom do armazenamento, como se fossem inúmeros arquivos trancados a espera de uma chave. O portador da imagem era Perpétuo - um latino que havia conhecido quando esse se encontrava em São Paulo, a trabalho.

Não sou de frequentar bares, embora, neste dia, sozinha, decidi tomar uma bebida. Sentei-me na primeira mesa de frente para a porta com o intuito de apressar minha saída. Prontamente o garçom prestativo veio em minha direção, fiz o pedido: uma taça de vinho branco. A diversão degustativa estava terminando quando delicadamente, abordada por um homem, hesitei. Era Perpétuo. Sua voz e postura física levaram-me a um delírio temporário, como se fosse um oásis no meio do deserto. Seduzida, aceitei o convite para ir a sua casa tomar uma segunda taça.

Combinação agradável de luzes fizeram-me familiarizada com o ambiente. A sala ampla e a diversidade de cores deixavam o espírito leve. Assim, acariciada pelo espaço, Perpétuo colocou uma música, um som desconfortável antagonista de todo o clima criado. Em dúvida, entregou-me uma caixa. Não abri.

Dono de si e de uma segurança invejável, percebeu que facilmente me manipulava e sentia ao seu olhar uma vitória conquistada. Por um breve momento, acreditei na minha fragilidade, o que de certa maneira me confundiu. Cedi aos meus instintos e ao cobrar a racionalidade estava nua em uma cama de tecidos caros. Ao lado, o presente: a caixa. Mais uma vez não abri. Vi uma foto sua numa cômoda, num deslize roubei. Escondida, fui embora, como se quisesse negar todo o acontecido. Procurei não entrar numa discussão moralista comigo mesma, tratei de esquecê-lo. Nunca mais o vi.

Presente - em meio a bagunça, o telefone toca. Compromisso: Café Central, 20 horas. Sem mais angústias e esquecendo-me temporariamente das lembranças, lá vou eu, Pio, lá vou eu...

5 comentários:

Anônimo disse...

antes que alguem veja, corrija a palavra GARÇON, que é com cedilha e voce pos com S.Corrija e depois apague este comentário.
Alguem que te ama profundamente zela por sua idoneidade.Mas como diz seu inicio de texto, devo estar esquecido lá nas lembranças de seus medos.Seu fã!

Lunna Guedes disse...

Oi Vanessa, passando para ler seu escrito novamente. Já decorei o endereço da página de tanto que venho aqui (rs).
Hei obrigada por sua participação junto ao Amigo Oculto que tornou-se uma agradável brincadeira.
Hei, você não presentou o seu amigo com um poema (coisa feia isso). risos
Beijos

Vanessa Morelli disse...

Ô, meu querido anônimo. Corrija-se também. Porque se for com Ç termina em M e não em N.
Abaixo segue a gramática para ambos e curiosos:


GARÇOM/GARÇÃO/GARÇONETE/GARÇOA
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A palavra "garçom" (que possui a variante "garção") vem do francês "garçon" ("jovem", "rapaz") e já foi usada em português com o sentido original, como se vê neste fragmento de Machado de Assis, citado no "Aurélio": "Era um lindo garção, lindo e audaz".
Na língua de hoje, predomina a forma "garçom", com o sentido de "empregado que serve em restaurantes". O "Vocabulário Ortográfico", da Academia, registra "garçoa". O único dicionário que registra "garçoa" é o de Caldas Aulete, que lhe dá o sentido de "moça", "rapariga". Os demais dão apenas "garçonete", e só como "empregada que serve em restaurantes".

Perto do Mar Filmes disse...

Caraca hein?!?!
Matou a pauuuuuu...
belo latino creio eu rsrs
Bjoksssssssss

Ricardo Rayol disse...

gosto desse tipo de texto, mas por que definir o cara como latino? ou acha que a carga de sedução deste adjetivo seja a definição perfeita.. ou você esta´discriminando os afros, nisseis, sanseis, caucasianos?

tantas possibilidades...