Ritual das Mulheres, Autoria: Vanessa Morelli, Cena para Sarau.
Personagens: Anfitriã, Senhorita Ana, Senhorita Flávia, Senhorita Sara e Senhorita Luana.
(As 4 estão de sombrinhas. É noite. É uma comemoração.)
Senhora Ana: Quanta elegância! Parece que pensou em todos os detalhes.
Senhorita Flávia: Parece não. Pensou em todos os detalhes.
Senhorita Sara: Preocupou-se com o esmero.
Senhora Luana: Quanto requinte!
Senhorita Ana: Eu diria ainda mais: uma comemoração tão pormenorizada como essa é muito digna de nossa vinda.
Senhorita Flávia: Andei 46 km para chegar até aqui.
Senhorita Sara: Não é muito, da minha casa até esta comemoração digníssima são 88 km.
Senhorita Luana: Vieram como?
Senhorita Flávia: Vim de carro, meu motorista me deixou. Deve estar dormindo dentro do carro, pobre rapaz...
Senhorita Sara: Eu também vim de carro, dirigindo.
Senhorita Ana: Não sabia que dirigia.
Senhorita Sara: Faço de tudo, só não lavo e nem passo.
Senhorita Luana: Que lástima se o fizesse.
Senhorita Sara: Que nada! Tenho orgulho de minha independência.
Senhorita Ana: Meu marido me deixou. Virá me buscar dentro de uma hora. É um amor, sempre me agrada.
Senhorita Luana: Será incômodo se o seu marido me deixar em casa antes?
Senhorita Ana: E o seu marido, o Senhor Clóvis, não a buscará?
Senhorita Luana: Meu marido, aquele mal se preocupada comigo. Tive de vir a pé. Não sei dirigir. E ele nem se ofereceu. Deve estar dormindo no momento.
Senhorita Ana: Sendo assim, faremos de bom grado.
Senhorita Luana: Muito agradecida. Acaba de salvar meus pés!
Senhorita Ana: Confesso estar desapontada com o comportamento deselegante do Senhor Clóvis.
Senhorita Sara: Eu também!
Senhorita Flávia: Indignadíssima.
Senhorita Luana: É o martírio das mulheres casadas. (olha para a Senhorita Ana) Quer dizer, nem todas!
Senhorita Ana: Correção bem pontuada, eu diria.
Senhorita Flávia: Bem pontuada.
Senhorita Sara: Convém que sim.
Senhorita Ana: Meninas, desculpe a liberdade pelo “meninas”, mas me preocupa as senhoritas voltarem sozinhas para tão longe, ainda mais nesta escuridão que se faz presente.
Senhorita Flávia: Não precisa preocupar-se.
Senhorita Sara: Somos independentes.
Senhorita Ana: Sei bem disso, mas não me custa nada oferecer hospedagem pelo menos por esta noite.
Senhorita Flávia: Ah! Quanta educação!
Senhorita Sara: Quanta gentileza!
Senhorita Ana: Então... aceitam meu convite? Podem seguir nosso carro, assim não precisam voltar para pegá-los.
Senhorita Flávia: Bem pensado.
Senhorita Ana: Posso então fazer esse agrado?
Senhorita Flávia: Adoraria descansar antes de tomar estrada novamente.
Senhorita Sara: Só penso que se aceitar, estarei renegando minha independência. Não costumo aceitar gentilezas. Tenho minha independência!
Senhorita Ana: Por uma noite não lhe fará mal algum, Senhorita Sara.
Senhorita Sara: Já que não invadirei seu espaço e é tão gentil, não me custa aceitar.
Senhorita Ana: Adorarei passar mais algumas horas com as senhoritas.
Senhorita Luana: Mas que belíssima comemoração! Merecemos mais champagne, não é mesmo?
Senhorita Ana: O Ritual sagrado vai começar. Fechemos nossas sombrinhas. Precisamos estar livres de objetos nas mãos.
(fecham as sombrinhas e colocam no chão)
Anfitriã: Sejam bem vindas! O Ritual vai começar!
(As 4 se jogam no chão. A Anfitriã pisa em cima das 4 e continua pisando em outras, como se fossem muitas)
Anfitriã: Estamos aqui para nos redimir de nossos pecados. Estamos aqui para fazer desta noite um ato simbólico. Piso em vocês para que se lembrem que o caminho para a nossa trajetória é a humildade. (pausa) Levantem-se! Peguem suas espadas!
(As 4 se levantam e pegam as espadas que estão no fundo do palco)
Anfitriã: Levantem-na! Vamos começar o juramento. Eu, portadora da força terrestre (repetem), Prometo, Rei dos Céus, (repetem) que nada e ninguém (repetem) me fará falhar (repetem). Estou aqui para provar o voto de confiança que em Vós tenho (repetem). Ajoelhem-se! (as 4 ajoelham) Pausa para o festejo! Tragam as taças! (as 4 se levantam, trazem taças com vinho) Como prova de nossa gratidão, como prova da nossa solidariedade, como prova da nossa generosidade, sirvam-se! (as 4 vão até o público e entregam algumas taças. Apenas alguns receberão. Só as mulheres receberão as taças) Brindamos! (todas erguem as taças e bebem demoradamente, saboreando) Passemos para a quinta prova, a do reconhecimento. Cumprimentem-se e digam seus nomes!
Senhorita Ana: Ana. Prazer em conhecê-la, Flávia!
Senhorita Flávia: Flávia. Prazer em conhecê-la, Sara!
Senhorita Sara: Sara. Prazer em conhecê-la, Luana!
Senhorita Luana: Luana. Prazer em conhecê-la, Ana!
(Se conhecerem alguém da platéia do sexo feminino, cumprimentam também. Abraçam-se)
Anfitriã: O momento chegou. Vamos nos conhecer verdadeiramente. Agora só é possível comunicar-se através de poemas. A que sentir seu momento, comece. (todas se olham, silêncio, constrangimento. Finalmente uma começa, timidamente).
Senhorita Luana:
Julguei-me certa,
Prepotente,
Hoje, faço-me reta.
Ergo a lança até Vós!
Senhorita Ana:
Qual criatura há de se julgar errada?
Entre pétalas e espinhos, correta não digo.
Sigo, destemida, cheia de bravura,
Caminhando entre tropeços, reflito.
Quem sou eu, esta criatura?
Senhorita Flávia:
Frágil estrada da vida,
Linha do horizonte sem fim,
Gostaria de viver destemida.
Seria a sorte, enfim!
Senhorita Sara:
Independentes minhas palavras soam,
Acredito na liberdade promissora,
Quais vozes ecoam?
Sou apenas uma emissora!
(Todas acendem uma vela, levam para cima, começam a dançar. A Vela não pode apagar)
Anfitriã: Possuímos o dom da sabedoria, a voz da vida. É através dessa luz erguida que conseguimos o caminho da iluminação. Chegamos ao topo da nossa comunicação com o poder divino. Agora estão todas preparadas para dar a Luz e receber a Luz do dia e da noite. O universo é energia, emana energia. Toda ação tem sua reação. Façam o bem e receberão o bem. Boa noite!
Personagens: Anfitriã, Senhorita Ana, Senhorita Flávia, Senhorita Sara e Senhorita Luana.
(As 4 estão de sombrinhas. É noite. É uma comemoração.)
Senhora Ana: Quanta elegância! Parece que pensou em todos os detalhes.
Senhorita Flávia: Parece não. Pensou em todos os detalhes.
Senhorita Sara: Preocupou-se com o esmero.
Senhora Luana: Quanto requinte!
Senhorita Ana: Eu diria ainda mais: uma comemoração tão pormenorizada como essa é muito digna de nossa vinda.
Senhorita Flávia: Andei 46 km para chegar até aqui.
Senhorita Sara: Não é muito, da minha casa até esta comemoração digníssima são 88 km.
Senhorita Luana: Vieram como?
Senhorita Flávia: Vim de carro, meu motorista me deixou. Deve estar dormindo dentro do carro, pobre rapaz...
Senhorita Sara: Eu também vim de carro, dirigindo.
Senhorita Ana: Não sabia que dirigia.
Senhorita Sara: Faço de tudo, só não lavo e nem passo.
Senhorita Luana: Que lástima se o fizesse.
Senhorita Sara: Que nada! Tenho orgulho de minha independência.
Senhorita Ana: Meu marido me deixou. Virá me buscar dentro de uma hora. É um amor, sempre me agrada.
Senhorita Luana: Será incômodo se o seu marido me deixar em casa antes?
Senhorita Ana: E o seu marido, o Senhor Clóvis, não a buscará?
Senhorita Luana: Meu marido, aquele mal se preocupada comigo. Tive de vir a pé. Não sei dirigir. E ele nem se ofereceu. Deve estar dormindo no momento.
Senhorita Ana: Sendo assim, faremos de bom grado.
Senhorita Luana: Muito agradecida. Acaba de salvar meus pés!
Senhorita Ana: Confesso estar desapontada com o comportamento deselegante do Senhor Clóvis.
Senhorita Sara: Eu também!
Senhorita Flávia: Indignadíssima.
Senhorita Luana: É o martírio das mulheres casadas. (olha para a Senhorita Ana) Quer dizer, nem todas!
Senhorita Ana: Correção bem pontuada, eu diria.
Senhorita Flávia: Bem pontuada.
Senhorita Sara: Convém que sim.
Senhorita Ana: Meninas, desculpe a liberdade pelo “meninas”, mas me preocupa as senhoritas voltarem sozinhas para tão longe, ainda mais nesta escuridão que se faz presente.
Senhorita Flávia: Não precisa preocupar-se.
Senhorita Sara: Somos independentes.
Senhorita Ana: Sei bem disso, mas não me custa nada oferecer hospedagem pelo menos por esta noite.
Senhorita Flávia: Ah! Quanta educação!
Senhorita Sara: Quanta gentileza!
Senhorita Ana: Então... aceitam meu convite? Podem seguir nosso carro, assim não precisam voltar para pegá-los.
Senhorita Flávia: Bem pensado.
Senhorita Ana: Posso então fazer esse agrado?
Senhorita Flávia: Adoraria descansar antes de tomar estrada novamente.
Senhorita Sara: Só penso que se aceitar, estarei renegando minha independência. Não costumo aceitar gentilezas. Tenho minha independência!
Senhorita Ana: Por uma noite não lhe fará mal algum, Senhorita Sara.
Senhorita Sara: Já que não invadirei seu espaço e é tão gentil, não me custa aceitar.
Senhorita Ana: Adorarei passar mais algumas horas com as senhoritas.
Senhorita Luana: Mas que belíssima comemoração! Merecemos mais champagne, não é mesmo?
Senhorita Ana: O Ritual sagrado vai começar. Fechemos nossas sombrinhas. Precisamos estar livres de objetos nas mãos.
(fecham as sombrinhas e colocam no chão)
Anfitriã: Sejam bem vindas! O Ritual vai começar!
(As 4 se jogam no chão. A Anfitriã pisa em cima das 4 e continua pisando em outras, como se fossem muitas)
Anfitriã: Estamos aqui para nos redimir de nossos pecados. Estamos aqui para fazer desta noite um ato simbólico. Piso em vocês para que se lembrem que o caminho para a nossa trajetória é a humildade. (pausa) Levantem-se! Peguem suas espadas!
(As 4 se levantam e pegam as espadas que estão no fundo do palco)
Anfitriã: Levantem-na! Vamos começar o juramento. Eu, portadora da força terrestre (repetem), Prometo, Rei dos Céus, (repetem) que nada e ninguém (repetem) me fará falhar (repetem). Estou aqui para provar o voto de confiança que em Vós tenho (repetem). Ajoelhem-se! (as 4 ajoelham) Pausa para o festejo! Tragam as taças! (as 4 se levantam, trazem taças com vinho) Como prova de nossa gratidão, como prova da nossa solidariedade, como prova da nossa generosidade, sirvam-se! (as 4 vão até o público e entregam algumas taças. Apenas alguns receberão. Só as mulheres receberão as taças) Brindamos! (todas erguem as taças e bebem demoradamente, saboreando) Passemos para a quinta prova, a do reconhecimento. Cumprimentem-se e digam seus nomes!
Senhorita Ana: Ana. Prazer em conhecê-la, Flávia!
Senhorita Flávia: Flávia. Prazer em conhecê-la, Sara!
Senhorita Sara: Sara. Prazer em conhecê-la, Luana!
Senhorita Luana: Luana. Prazer em conhecê-la, Ana!
(Se conhecerem alguém da platéia do sexo feminino, cumprimentam também. Abraçam-se)
Anfitriã: O momento chegou. Vamos nos conhecer verdadeiramente. Agora só é possível comunicar-se através de poemas. A que sentir seu momento, comece. (todas se olham, silêncio, constrangimento. Finalmente uma começa, timidamente).
Senhorita Luana:
Julguei-me certa,
Prepotente,
Hoje, faço-me reta.
Ergo a lança até Vós!
Senhorita Ana:
Qual criatura há de se julgar errada?
Entre pétalas e espinhos, correta não digo.
Sigo, destemida, cheia de bravura,
Caminhando entre tropeços, reflito.
Quem sou eu, esta criatura?
Senhorita Flávia:
Frágil estrada da vida,
Linha do horizonte sem fim,
Gostaria de viver destemida.
Seria a sorte, enfim!
Senhorita Sara:
Independentes minhas palavras soam,
Acredito na liberdade promissora,
Quais vozes ecoam?
Sou apenas uma emissora!
(Todas acendem uma vela, levam para cima, começam a dançar. A Vela não pode apagar)
Anfitriã: Possuímos o dom da sabedoria, a voz da vida. É através dessa luz erguida que conseguimos o caminho da iluminação. Chegamos ao topo da nossa comunicação com o poder divino. Agora estão todas preparadas para dar a Luz e receber a Luz do dia e da noite. O universo é energia, emana energia. Toda ação tem sua reação. Façam o bem e receberão o bem. Boa noite!
2 comentários:
Achei interessante este ritual, mas por que a anfitriã deveria instruir as participantes para falarem apenas por poemas? Não daria um lance legal que simplesmente elas começassem a falar assim e mostrassem cara de espanto?
Maravilhosa, brilhante, sublime, genial!!!
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